A história da família Pereira Filho

Manuel José Pereira Filho nasceu no dia 10 de fevereiro de 1888, em Porto Alegre, filho do Comendador Manuel José e de Belmira Martins Pereira. Professor de Microbiologia e Imunologia da então Faculdade de Medicina de Porto Alegre, tem seu nome ligado, de maneira indelével, à própria história dessas especialidades em nosso meio pelo vulto de suas contribuições.

Fez seus estudos primários na Escola Brasileira de Porto Alegre dirigida por Inácio Montanha. Estudou no curso secundário no Ginásio São Pedro, sob a direção de Frederico Fitzgerald. Diplomou-se em Farmácia em 1907 e em 1910 em Medicina, tendo defendido tese sobre incompatibilidade medicamentosa, também aprovada com distinção.

Em 1913, fez curso de especialização em Microbiologia e Zoologia Médica no Instituto Osvaldo Cruz.

Pereira Filho teve sempre uma íntima relação com a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Durante seu curso médico, foi interno efetivo de Clínica Médica. Em 1915, o Provedor da Santa Casa de Misericórdia nomeou-o adjunto da 9a Seção. Neste mesmo ano, foi nomeado chefe da Seção de Parasitologia do Instituto Osvaldo Cruz de Porto Alegre.

Em 1916, fundou o Instituto Pereira Filho reconhecido como de utilidade pública pelo Decreto Federal no 22486. Não era um simples estabelecimento industrial, mas uma verdadeira escola médica, como referiu o prof. Annes Dias ao visitá-lo.

No Instituto Pereira Filho, foram executadas inúmeras teses de médicos e farmacêuticos e também eram realizados exames gratuitos para enfermarias da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.

Getúlio Vargas, ao visitar o Instituto, disse: deixo consignado o meu sentimento de admiração, como brasileiro, e de orgulho como rio-grandense.

Em 1918, foi designado para exercer a chefia do laboratório de Biologia do Instituto Borges de Medeiros e, em 1920, foi nomeado bacteriologista da Diretoria de Higiene.

Em 1925, examinou as águas do Rio Guaíba, Jacuí e Caí, a fim de se localizarem os melhores pontos de captação de águas, sob o ponto de vista bacteriológico, para o abastecimento público da cidade.

Em 1926, foi designado Diretor da Enfermaria de Medicina do Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Porto Alegre.

Em 1930, a mesa administrativa da Santa Casa de Misericórdia denominou a 24a Enfermaria (pele e sífilis) de Enfermaria Comendador Manuel José Pereira e nomeou-o seu Diretor efetivo.

Em 1932, foi nomeado professor Catedrático de Microbiologia da Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Em 1934, foi eleito presidente efetivo do Sanatório Belém, sendo considerado o seu principal fundador. O Sanatório Belém foi considerado o maior e o melhor hospital para tuberculose de que dispunha o Brasil. Esta grandiosa obra deve muito a Pereira Filho, a sua competência, ao seu esforço e tenacidade. Este Sanatório prestou amparo a milhares de tuberculosos e constituiu-se numa verdadeira escola de tisiologistas. Atualmente, segue sendo um grande Hospital Geral prestando relevante serviço à comunidade.

Em relação ao Sanatório Belém, o General Benicio da Silva disse: entra-se em um Sanatório, percorre-se uma escola e sai-se de um Templo.

Em 1951, foi convidado pelo Presidente Getulio Vargas para exercer a direção do Serviço Nacional de Tuberculose, com sede no Rio de Janeiro. Nesse serviço, desenvolveu intensa atividade, dinamizando-o e dando nova orientação ao combate da tuberculose. Foi com seu apoio que foi criado um pavilhão anexo a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e que leva hoje o seu nome “Pavilhão Pereira Filho” e que é considerado um grande centro de tratamento de doenças pulmonares.

Pereira Filho tem inúmeros títulos e trabalhos originais de alta relevância social e científica. É citado em vários livros internacionais, entre os quais: Encyclopedie Medico-Chirurgicale – Demartologische zeitschrift Mycology, e na bibliografia de trabalhos do Instituto Pasteur de Paris.

Realizou estudos sobre a imunização antituberculosa estudando a parte experimental do B.C.G., contribuindo para o início da vacinação antituberculosa.

Inaugurou, ao lado do Instituto Pereira Filho, o Dispensário Antônio Fontes, destinado a fornecer gratuitamente a vacina B.C.G.

Apresentou em 1933, à Sociedade de Medicina de Porto Alegre, estudo do primeiro caso de febre ondulante pela Brucella abortus bovis, comprovado pela hemocultura observado no Rio Grande do Sul. Realizou o diagnóstico bacteriológico do primeiro caso de meningite cérebro espinhal, observado em Porto Alegre (comunicado feito na Sociedade de Medicina de Porto Alegre em 1920).

Isolou, pela primeira vez no Estado do Rio Grande do Sul, o Actinomyces bovis. Identificou um cogumelo ainda não identificado denominado Monilia Aldoi, dedicado ao prof. Aldo Castelani, do Instituto Ross de Londres (cogumelo patogênico).

Identificou uma nova espécie de esporotricado que denominou Sporotriculum fonsecai (Esporotricado patogênico). Identificou um cogumelo ainda não identificado que denominou Piedraia sannentoi, dedicado ao prof. Sarmento Leite. Realizou o estudo bacteriológico completo que possibilitou o reconhecimento da Exotima A do Clostridium botuliun no escabeche do peixe que permitiu com segurança o diagnóstico dos primeiros casos de botulismo humano observados no Brasil, estudo publicado em número especial na Revista Medicina e Cirurgia da Divisão de Pronto Socorro Municipal de Porto Alegre.

Pereira Filho tem entre seus inúmeros títulos: Membro Benfeitor da Societé de Medicine et D’hygyeve Tropicalles de Paris; Sócio Benfeitor da Cruz Vermelha Brasileira em razão de valiosos serviços que prestou à Cruz Vermelha; Professor Honoris-Causa da Faculdade Fluminense de Medicina; Professor Catedrático de Microbiologia da Faculdade de Medicina e Farmácia de Porto Alegre; Sócio Benemérito do Centro de Estudos médicos do Serviço de Tisiologia da Policlínica Geral do Rio de Janeiro; Membro Honorário da Sociedade Brasileira de Tuberculose; paraninfo de diversas turmas da Faculdade de Medicina e Farmácia; homenageado pelo Dr. Valdemir Miranda da Faculdade de Medicina do Recife que lhe dedicou um novo esporotricado identificado por este pesquisador – Sporotrichum pereirai; Membro da American Microscopial Society; Membro da The American Association forthe advancement of science; Membro da Mycological Society of America.

Pereira Filho honrou o Brasil e sobretudo a ciência rio-grandense. Sua obra demonstrou uma elevada capacidade técnica, administrativa, um grande amor à ciência, um insuperável valor humanístico. Tem seu nome ligado intimamente não só à ciência, mas à medicina caritativa, em especial na luta da grande cruzada contra a tuberculose. Foi mais que um cientista, foi um humanitário. O exemplo calou forte no seio da sociedade, no seio de sua própria família fazendo que seu único filho, Arthur Pereira, professor livre docente de cirurgia torácica da UFRGS, aderisse aos mesmos ideais da ciência e caridade, dedicando-se com afinco, até os seus últimos dias, ao Sanatório Belém, fazendo com que quatro dos seus cinco netos trabalhassem como médicos no Sanatório Belém (hoje hospital Parque Belém), que sem dúvida foi a grande obra que Pereira Filho realizou em Porto Alegre.

A família Pereira Filho na atualidade

Dr Pereira Filho teve 1 filho médico (Dr Arthur Oscar Garcia Pereira), o qual formou-se médico em 1955 pela UFRGS e especializou-se em Cirurgia Torácica, sendo inclusive Professor Catedrático desta Universidade. Dr. Arthur Oscar teve 4 filhos médicos: Dr. Artur Benedito, Dr. Manoel, Dr. Luiz Augusto e Dr. Antonio. Por sua vez, o Dr. Artur Benedito teve 3 filhos médicos (Arthur Azambuja, Nelson e Gustavo). Dr. Manoel teve 1 filho médico e Dr. Antônio, 2.

Princípios da família Pereira Filho

Excelência, ética, profissionalismo e tradição.